Em Brasília, no dia 31 de maio, a Associação Brasileira da Indústria de Moda Sustentável (Abrimos), representada pela presidente Francisca Vieira, reuniu-se novamente com Jorge Viana, diretor da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), para a apresentação de um projeto para este segmento da moda.
Estiveram presentes na reunião, representando a ApexBrasil, o diretor Viana, Maria Paula Veloso e André Limp, além de Mariele Christ que representou o Programa de Internacionalização da Indústria Têxtil e da Moda Brasileira (TexBrasil).
Da Abrimos, compareceram os associados Armando Dantas, executivo da Santa Luzia Redes e Decoração e Lu Bulcão, da Dona Rufina, além do prefeito do município de Ingá-PB, Robério Burity e também a proponente do projeto Pryscilla Dora, do Instituto de Incubação e Aceleração (IA). De acordo com a presidente da Abrimos, que também é CEO da Natural Cotton Color, o projeto tem como objetivo “reunir os associados para que, juntos, possamos representar o país com o nosso modelo de sustentabilidade”.
Um novo modelo de fomento para pequenas marcas sustentáveis
Pryscilla, diretora do IA, explicou que o projeto promove a aceleração no desenvolvimento de um produto ou de um serviço. “Trata-se de uma nova proposta, um modelo que ainda não está sendo oferecido para as marcas associadas que são micros, pequenas e médias empresas”, esclareceu. Ela indicou que as instituições de fomento não vêm atendendo as necessidades de empresas individuais, associações ou cooperativas que produzem orientadas para a sustentabilidade.
A presidente da Abrimos destacou que algumas marcas associadas já têm experiência com a ApexBrasil, por meio do programa TexBrasil. No entanto, o suporte para exibição em feiras e eventos costuma envolver custos que ainda são muito altos para MEIs, pequenas e médias empresas do país. A produção orientada pela sustentabilidade onera os custos por vários motivos, seja pela matéria-prima certificada, pela baixa escala, ou pelo pagamento justo para a cadeia produtiva. Na reunião foi destacado que é necessário um apoio efetivo para que a empresa possa entrar no mercado internacional.
No projeto, constam 26 empresas das regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste. Entre elas, 12 ainda estão buscando capacitação para exibir seus produtos no mercado internacional. “Dependendo do apoio recebido no projeto, este número de empresas podem chegar a mais de 50”, disse Francisca. Para a presidente da Abrimos, o projeto demonstra a importância de um modo de produção que deve incluir toda uma cadeia produtiva com foco no desenvolvimento social e econômico. “Trata-se de um segmento na Indústria e que tem como principal característica o desenvolvimento sustentável em seus Arranjos Produtivos Locais (APL)”, ressaltou.
A relevância do arranjo produtivo na preservação da cultura local
Armando Dantas declarou a importância da Abrimos para gerar mais eficiência e abertura de mercado para as empresas associadas. Ele mesmo tem como objetivo retomar a participação da Santa Luzia nas feiras internacionais, expandindo os negócios para além dos 20 países que já atende como exportador. A ideia é voltar para as feiras internacionais a partir do projeto que tem como ênfase diminuir os custos de participação das pequenas e médias empresas, como é o caso da Santa Luzia.
O diretor explica que a associação da sua empresa de decoração na Abrimos é natural já que moda é mais do que confecção de vestimentas. É fato que decoração e moda são orientadas pelo design e pelo estilo de vida com pautas alinhadas por vários critérios ambientais, sociais e econômicos como a redução da emissão de carbono, redução de uso de água, a inclusão social e a promoção cultural, como no caso do artesanato local que compõe a missão da Santa Luzia que também cultiva algodão orgânico na Paraíba com contrato de compra garantida com a agricultura familiar. “A produção feita com base em sustentabilidade gera impactos positivos na sociedade. Precisa de reconhecimento e apoio da agência de internacionalização para avançar”, disse.
Na reunião, Dantas apresentou uma rede de dormir que conquistou um selo de excelência artesanal chancelado pela Unesco. O produto feito à mão com o algodão colorido da Paraíba impressionou o diretor da ApexBrasil pela beleza e pela qualidade. Na apresentação ficou evidente o trabalho desenvolvido no APL – desde o plantio do algodão em parceria com a agricultura familiar até o trabalho manual feito por mulheres em suas casas que estão até 400 km distantes da fábrica. “Quando ampliamos o mercado e exportamos, geramos oportunidade para toda a cadeia produtiva”, enfatizou.
Para Lu Balcão, a moda é o caminho que mais agrega valor e pode garantir a preservação dos saberes ancestrais que formam a identidade brasileira. Por isso, esteve presente na reunião representando não somente a sua marca, mas o APL da lã produzida no Rio Grande Sul e o trabalho manual envolvido na matéria-prima. “A lã perdeu seu valor de mercado e isso está afastando as artesãs. Elas estão buscando outras fontes de renda. Há risco deste saber regional entrar em extinção”, declarou. Para ela, o arranjo produtivo do algodão colorido orgânico da Paraíba é um exemplo de como a união do setor público e privado podem resgatar um produto cultural.
“Estamos pedindo atenção para a lã do Rio Grande Sul inspirados algodão da Paraíba, um caso de sucesso do setor têxtil”, reforçou a empresária.
Robério Burity, prefeito de Ingá, também destacou o APL da sua região que atua desde o plantio do algodão até a produção do artesanato labirinto em Chã dos Pereira. Hoje, este fazer manual é patrimônio imaterial do Estado da Paraíba esclarecendo que o artesanato, para se manter vivo e sustentável, tem a moda como um grande veículo de valorização, principalmente no mercado internacional. “Estas pequenas empresas ainda não conseguiram expor em feiras e eventos internacionais do setor porque os custos são muito altos”. Desta forma, o gestor reafirmou a importância do projeto apresentado para que a ApexBrasil lance um olhar para os negócios sustentáveis, de produção artesanal e cultural. “Precisamos de uma contrapartida menor para as microempresas, associações e cooperativas exporem em outros países. O ideal seria 90% de apoio da Apex – Brasil e 10% de contrapartida das empresas”, disse.
Ao final da reunião, A Abrimos já tinha uma reunião agendada na sequência com a representação nacional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae, também em Brasília. A próxima etapa é buscar apoio para a capacitação técnica que inclui design, modelagem e costura especializada para atender as exigências do mercado internacional. O texto sobre isso estará em outro post.
Inscreva-se na Abrimos clicando neste link.